Percorrer as imagens de Molder, que às vezes tão ferozmente nos interpelam, é como assistir à emergência inquietante de uma mascarada muito séria, um teatro enganoso em que a vítima, o testemunho, o fazedor na sombra, o vigilante e o carrasco encarnam no mesmo indivíduo, não tanto para consolação dos espectadores, nem, supostamente, por narcisismo, quanto para os enredar em estratégias de despersonalização, dominação, dissimulação e culpa, todo um teatro da crueldade e do mistério em que o sujeito aparece submerso ou refugiado numa espécie de cripta psíquica: um verdadeiro espaço de sedução medúsea ù eis o que é a imagem e, especificamente, a imagem fotográfica ù do qual, sem dúvida, nem ele nem os espectadores podem sair ilesos. [Alberto Ruiz de Samaniego] Livro publicado por ocasião da exposição de Jorge Molder Rico pobre mendigo ladrón no Circulo de Bellas Artes em Madrid de 5 de Fevereiro a 17 de Maio de 2015. Edição bilingue - português/castelhano.